30 de junho de 2008

carlos drummond de andrade - poeta

"Satânico é o meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te me minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nú, sem o mínimo de pudor! Percebendo da minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite. Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força.
Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!"

27 de junho de 2008

a minha história com os Mesa...

Numa tarde como qualquer outra numa das galerias de arte da Miguel Bombarda, existia eu num ambiente minimal e composto, derivado à cor branca das paredes que me rodeavam em contraste com a parede de capas de arquivo vermelhas ao fundo do gabinete. Estava a trabalhar, numa daquelas tardes em que não entra ninguém na galeria e o telefone recusa-se a tocar, quando um grupo de pessoas me bate à porta do gabinete.
Era uma fotógrafa do Blitz, acompanhada de mais algumas pessoas. Rapidamente se identificou e explicou o porquê de eu ter sido interrompido no meu momento de tédio. Andava ali pela Miguel Bombarda, com um grupo de música chamado Mesa procurando os melhores enquadramentos para os fotografar, para ilustrarem o calendário para 2005 do Blitz.
Pediu-me se podiam utilizar a montra da galeria (uma espécie de cubículo branco virado para a rua) para tirar umas fotografias com os Mesa. Disse que sim e quando dou por ela, o meu tédio é substituído pelos Mesa a descalçarem-se e a tirarem casacos à minha volta a desfazerem-se em agradecimentos! Após cerca de uma hora, a Mónica Ferraz senta-se na cadeira ao meu lado e pergunta-me se conheço o grupo dela. Respondo-lhe que tinha ouvido na rádio alguma coisa deles e que fixei a banda pelo nome, por ser invulgar mas nada mais que isso. Com o ser ar tranquilo que tanto a caracteriza, responde-me: "Tens de ouvir, aposto que vais gostar, sim?" Despediram-se um a um de mim, agradeceram e saíram. Procurei ouvir e comecei a ficar preso as sua sonoridade electrónica assente em líricas na língua de Camões!
Cruzei-me com eles por acaso no ano passado (obriguei-me a sair mais cedo do trabalho, para forçar este acaso"), quando deram um concerto em cima de um camião da Vodafone na Avenida dos Aliados no Porto num belo fim de tarde, e procurei-os de uma forma premeditada no passado dia de 19 de Junho na Casa da Música para ouvir o seu mais recente trabalho - Para todo o mal.
Sou viciado em Mesa e assim sendo aqui fica uma amostra do porquê estes "meninos" me darem arrepios na espinha. Obrigado Mesa!