31 de janeiro de 2013

a terceira dose de crystal castles



a terceira dose vai ser aplicada no próximo dia 16, no hard club no porto.
uma pequena dose de normalidade, para emendar uma realidade confusa.
simples. obrigado.

29 de janeiro de 2013

ao meu tomé: t2a n2 m0 IIIa

amanhã começo seis semanas de radioterapia no IPO do porto. trinta sessões de radiação localizada, que pretendem minimizar os efeitos do adenocarcinoma que me foi diagnosticado em outubro do ano passado. a cirurgia já lá vai, a quimioterapia também, falta agora a radioterapia para dar por terminada esta fase inicial da luta.
sei que fui diagnosticado por mero acidente ou capricho do destino, pois nunca apresentei quaisquer sintomas. não passa um dia que não agradeça por isso mesmo...
continuo perfeitamente ciente de algumas das coisas que os médicos me foram dizendo ao longo dos últimos meses. tenho noção que o cancro do pulmão pode desenvolver para o cérebro ou ossos e que a esperança média de vida para estes casos é bastante baixa... três em cada cinco pacientes morrem em menos de um ano após o diagnóstico. tenho a certeza que não serei um destes casos, pelo menos assim acredito todos os dias. também me recuso a aceitar a esperança média de vida mais optimista, que é de cinco anos. chama-lhe negação, chama-lhe o engano, chama-lhe o que quiseres, mas receio que para mim isso não seja suficiente. esse tempo não me chega para te conhecer...

convivo com esta realidade diariamente, à qual os médicos nem muito menos eu,  quisemos dar a devida importância no momento... muito possivelmente para que esta negra sentença não interfira com o processo de recuperação, o qual tenho vindo a levar a cabo de forma brava e corajosa diga-se. mas existem momentos em que a cabeça fraqueja e a dúvida me assola de uma maneira que nem sei bem como explicar. se tudo está à partida tão irremediavelmente perdido, qual o sentido das constantes baterias de análises, tratamentos, visitas a hospitais e infindáveis horas perdidas em salas de espera, onde raros são os sinais de esperança, daqueles que tal como eu, ali existem, esperando de certa forma em vão por uma boa notícia que teima em não chegar ou pelo despertar de um vulgar pesadelo nocturno!?

sonhei contigo no outro dia. segurava-te nos meus braços, parecia que alguém te queria arrancar de mim. pela primeira vez desde que adoeci, acordei a meio da noite lavado em lágrimas, entalado/castrado pela constatação da minha realidade. até hoje não me saíste da cabeça, não sei como fazer para manter este desejo de vida sabendo como são baixas as probabilidades de te ter em meus braços. por isso agora fraco me torno, perante o que me espera neste plano terreno. tremo por recear não te ter...

um dia de cada vez. cada dia até ao fim. um dia a seguir ao outro.

em inglês, porque sempre parece um diálogo do dr. house...
T2a - the tumor is larger than 3cm but not more than 5 cm.
N2 - cancer has spread to lymph nodes in the mediastinum.
M0 - no metastasis
IIIa - cancer has made its way to the body´s lymph nodes on the same side of the tumor.

16 de janeiro de 2013

entre tanto estamos em 2013

pois é, tenho andado arredado deste blog desde o ano passado (piada fácil eu sei).
agora que me vejo sem trabalho, com o carro avariado (querido esperto, foi bom enquanto durou) e com um tempo que ora chove, ora chove ainda mais, tenho optado por me resguardar em casa, fazendo do pijama o meu novo melhor amigo.
tudo isto é relativo quando estamos em plena luta com um cancro. acho que finalmente o consigo dizer, estou a lutar contra o dito. a quimioterapia já lá vai e apercebo-me agora do farrapo em que andava, fisicamente falando. de dia para dia sinto-me melhor, respiro melhor, praticamente sem dores e até já recuperei uma agradável cor na minha cara. não tinha noção do amarelo que estava e da profundidade das minhas olheiras. no final deste mês, passo a visitar diariamente o ipo do porto, para 30 sessões de radioterapia, que prometem terminar com a raça do adenocarcinoma que me levou grande parte do pulmão direito em setembro passado.
comecei a fazer exercício físico, ainda em forma de caminhadas, ontem consegui fazer 6kms junto ao mar, onde habitualmente corria, em pouco mais de 1h. nada mau, tendo em conta que cheguei ao fim com uma respiração não muito arrastada e com uma pulsação cardíaca que rapidamente voltou ao seu estado normal. talvez daqui a duas semanas arrisque uma breve corrida, tenho de continuar a treinar o físico para a chegada desse inevitável dia. claro está, que hoje sinto as pernas doridas do esforço, mas temos de começar por algum lado.
tenho concentrado todas as minhas energias neste assunto, não me dispersando com a falta de trabalho, a falta de qualquer tipo de apoio financeiro ou com a falta de dinheiro no banco. trabalho única e exclusivamente para colocar este assunto no meu passado, para que possa reiniciar a minha vida na primavera. até lá, não vou protestar por estar fechado em casa, por não saber muito bem como ocupar os dias, por não me apetecer fazer nada a maioria do tempo, nem muito menos por finalmente ter todo o tempo do mundo para dormir...

é preciso pois bater no fundo para vir à tona.